O Sampaio Corrêa fechou a participação no Campeonato Brasileiro da Série B 2020 em sexto lugar, melhor colocação do clube Tricolor neste formato da competição. A equipe boliviana brigou até a penúltima rodada pelo acesso, e viu o sonho de disputar a Série A ser adiado por muito pouco.
O presidente evitou usar a palavra lamentação quando reflete sobre as chances do Sampaio em conquistar o acesso, mas reconhece os momentos que considerou determinantes para tirar a Bolívia da briga na última rodada. “O começo do campeonato, quando perdemos muitos jogadores por Covid, e aquela sequência de oito jogos sem vitória pesaram demais no fim das contas. Some-se isso às muitas lesões que tivemos nesse período que acabaram causando um desequilíbrio na equipe em momentos fundamentais”, frisou.
Disposto a responder vários questionamentos sobre a campanha do Sampaio Corrêa na Série B, Frota fez questão de interromper momentaneamente os trabalhos de bastidores, com vistas à montagem do elenco para a temporada 2021, para colocar a limpo suas principais observações.
1 – Presidente, o que faltou para o Sampaio ter conquistado o acesso?
Atribuo, principalmente, à perda de sete jogadores, dos quais, cinco titulares, como o Luís Gustavo, Marlon e o André Luiz (responsáveis pela qualidade na saída de bola), além do Pimentinha e Robson Duarte, que são peças de quebram linhas adversárias – naquela sequência negativa de oito jogos em que fizemos somente um ponto -, sem contar nosso começo muito ruim no campeonato, quando conquistamos apenas um ponto em cinco rodadas. Infelizmente, o nível caiu com as suspensões e lesões que nos prejudicaram naquela incômoda sequência de oito partidas sem vitória. Se nós tivéssemos como ter um elenco mais equilibrado, não tenho dúvidas que teríamos condições de manter a campanha realizada no primeiro turno e conquistado esse tão sonhado acesso. Além disso, tiveram jogos em que saímos na frente e o esquema tático poderia ter sido mudado, para reforçar o meio-campo e segurar o resultado, como fizeram Avaí, Operário, Guarani, Cruzeiro e Náutico, contra nós.
2 – O senhor acredita em uma possível acomodação do elenco após garantir a permanência na Série B?
Após a vitória sobre o CRB, o Condé propôs um jantar para celebrarmos a segunda meta atingida na temporada, que foi a permanência na Série B. Então, lá, conversamos e vimos que poderíamos ir mais longe e fazer um segundo turno consistente. Não sou ingênuo a ponto de dizer que algum jogador não tenha assinado pré-contrato, mas, junto ao meu executivo de futebol, conversei com os destaques do elenco e todos negaram. Então, era uma situação que deveria servir de motivação. Não acredito que houve acomodação, porque um acesso para a Série A, que é um sonho meu desde que entrei no Sampaio, iria valorizar a todos, assim como o clube e o futebol maranhense de uma forma geral.
3 – Como o senhor encara certas insinuações sobre a possibilidade de o time “não querer subir”?
O maior absurdo que eu já ouvi. Como é que um clube, que está na Série B, num estado em que todas as outras equipes estão na Série D, não iria querer subir para a Série A? O Sampaio passaria de uma receita televisa (que é a maior fonte de renda dos clubes) de R$ 6 milhões para algo em torno de R$ 20 milhões, além de jogos contra grandes equipes, que, com a volta do público aos estádios, provavelmente no segundo semestre, iria nos possibilitar um aporte financeiro extra. Então, isso é a maior aberração que eu já ouvi, ultimamente.
4 – Chegou a notar insatisfações no elenco, que possam ter influenciado na queda do Sampaio na tabela em momentos determinantes?
Não houve razão para insatisfação. Os salários estavam em dia e, só para ilustrar, tinham sete clubes da Série B com vencimentos atrasados, inclusive o Cruzeiro, que completou dois meses e meio, a Ponte Preta, o Guarani e o Paraná, que teve uma queda brusca de rendimento e acabou rebaixado. O presidente do CSA, Rafael Tenório, que está com a folha em dia, revelou que o déficit orçamentário do clube é de R$ 15 milhões, e o que o salvou foi ter vindo de uma Série A. E eu queria lembrar que o Sampaio vem de uma Série C, uma divisão em que não se tem receita de direitos televisivos.
5- A internet é um terreno fértil para produzir ideias – muitas, perniciosas, inclusive – como a insinuação de que o Sampaio “vendeu” o acesso. Como o senhor recebe esse tipo de provocação?
Eu recebo esse tipo de insinuação como sendo de pessoas que costumam se valer dessa prática. Reunido com o meu departamento jurídico, decidi tomar as medidas judiciais cabíveis e vou acionar quem está insinuando isso nas redes sociais e blogs. Inclusive, coloco meu sigilo fiscal, telefônico, assim como de toda a diretoria, à disposição para que se prove qualquer ato ilícito da minha administração. É inadmissível que um trabalho feito em um ano complicado, não só para o futebol, mas vários segmentos, que foram brutalmente penalizados pela pandemia, seja tratado desta forma. Isso é insinuação de quem tem má-fé. O Sampaio está inserido no contexto do futebol maranhense, num campeonato que em nós pagamos para jogar. No Pará, na Paraíba se recebe incentivo financeiro, viabilizado pelas federações locais. Aqui, o presidente pode ter feito esforço, mas os clubes pagam muito caro para disputar um campeonato deficitário. E por que se disputa? Porque é a única forma de garantir vaga nas Copa do Nordeste e Copa do Brasil, estas, sim competições rentáveis no ponto de vista financeiro.
6 – Foi criada uma expectativa exagerada em relação ao possível acesso do Sampaio?
Eu concedi uma entrevista, há uns dois meses, quando o Sampaio ocupava o terceiro lugar, que havia dois times acima dos demais na Série B, Chapecoense e América Mineiro, com orçamento em torno 50 e 40 milhões, respectivamente. E nós não éramos favoritos para subir, porque existiam outras equipes com mais estrutura e poder de investimento na nossa frente, e isso, no futebol, faz diferença, mas que iríamos brigar. Claro que, com o menor orçamento da competição, a ideia inicial era tentar nos manter, mas, com a recuperação da equipe e a manutenção no G4 por algumas rodadas, vimos que era possível. Infelizmente, oscilamos em momentos cruciais e isso acabou custando caro no final.
7 – Um acesso valoriza a carreira de muitos profissionais no futebol, mas o senhor acredita que alguns jogadores não focaram nesse objetivo e já estavam pensando na próxima temporada?
Se isso aconteceu, cabe a pergunta a cada jogador. Eu não percebi isso, vivo o dia a dia do Sampaio, e teria detectado algo nesse sentido. Teve a situação do Caio Dantas, que veio ganhando menos do que ele ganhava no Boa Vista, se valorizou, com méritos, por ser o artilheiro do Brasil e recebeu propostas. Numa atitude que comprova nossa vontade de subir, nós não o negociamos, assim como o Marlon. Ambos tiveram propostas para sair e renderiam ao clube algo em torno de 2 milhões de reais. No entanto, nós os seguramos, por entender que seriam fundamentais para atingirmos o nosso objetivo, que passou a ser o acesso para a Série A. Sempre, após os jogos, me reunia com o Condé e comissão técnica, que também não perceberam falta de foco. Se tivesse ocorrido, podem ter certeza de que eu mandaria trocar o jogador.
8 – Com o menor orçamento na Série B, o Sampaio sofreu quando precisou rodar o elenco, devido às lesões e suspensões. Isso pode ter sido um fator de desequilíbrio à equipe no campeonato?
Sem dúvidas. A situação orçamentária pesou, e eu queria ressaltar que nós precisamos ter responsabilidade fiscal. O planejamento é feito em cima das receitas que você vai dispor, então, nós não temos como ter um elenco com equilíbrio total devido às limitações financeiras. Certamente, se nós tivéssemos uma folha de R$ 800 mil, e não de 400, nós teríamos mais condições de brigar de igual pra igual com os demais clubes.
9 – Foi assinado um termo de compromisso com o elenco firmando um determinado valor de premiação em caso de acesso. Os jogadores ficaram satisfeitos com os termos ou isso deixou algum tipo de descontentamento com o grupo?
Nós pagamos, ao longo do campeonato, uma premiação por vitória que somou, até o jogo contra o CRB, R$ 285 mil reais, num acordo que eu fiz previamente com a comissão técnica, executivo de futebol e jogadores. Depois, assinamos o compromisso, e eu tenho esse documento, de pagar mais R$ 2 milhões e meio pelo acesso. Então, isso é atitude de quem não quer subir? Isso foi definido com os representantes dos jogadores, Luís Gustavo e Vinícius Kiss. Portanto, não procede essa questão de que o grupo não ficou satisfeito com o acerto porque foi tudo devidamente conversado. Isso pode ser confirmado por qualquer pessoa no clube, desde atletas até funcionários.
10 – Como está o planejamento para a próxima temporada?
Iniciamos o planejamento de 2021 tentando fechar 2020, que foi um ano complicado, como todos sabem, pois a pandemia atrapalhou vários segmentos, não só o futebol. O Sampaio tem um custo mensal de 700 mil, incluindo salários, logística e obrigações tributárias, então precisamos trabalhar com responsabilidade orçamentária, porque eu não pretendo deixar um rombo para a próxima administração, como encontrei quando assumi. Tivemos os últimos dois meses sem receita, dezembro e janeiro, que nos sobrecarregou com um passivo de um milhão e trezentos mil reais. Mesmo assim, os salários de dezembro de funcionários e comissão técnica foram pagos, e já acertamos financeiramente com 12 jogadores.
Estou tratando com alguns treinadores, mas, antes de chegar a um nome, precisamos definir o perfil, que é de um técnico de ideias novas, com bom trabalho de campo, leitura tática e, sobretudo, gestão de grupo. Isso é fundamental. Em breve, quando tudo estiver definido, anunciaremos de forma oficial. Só digo que a torcida do Sampaio pode ter certeza de que formaremos um grupo competitivo, mesmo com as receitas limitadas. Já provamos que podemos montar times fortes dentro do nosso baixo orçamento. Estamos nos movimentando dia e noite para, em breve, anunciar comandante técnico e o elenco que defenderá o Sampaio na próxima temporada.